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Assim nasceu uma Nova Vida
Passados 2 anos de reuniões ao domingo à tarde numa garagem, a
Igreja Cristã Nova Vida tornava-se numa verdadeira “igreja de garagem”. Com a distribuição de alimentos e roupa, o aconselhamento pastoral, as aulas de música e os eventos, foi possível perceber que em poucos metros quadrados é possível fazer-se muita coisa, quando estamos determinados em ser agentes de transformação.
“Será que estamos a ser uma verdadeira influência nesta localidade? Será que a Igreja necessita de ter um edifício para ser e fazer aquilo para que é chamada?” – eram estas algumas das questões com que nos deparávamos. Sabiamos que queriamos fazer mais, que queriamos ser maiores, não em termos de tamanho ou prestígio, mas em alcance, numa atitude de disponibilidade, serviço e amor.
No início de 2012, o pastor Luís Gonçalves procurou a
Junta de Freguesia da Ramada para dar a conhecer a existência deste pequeno grupo de pessoas com grandes sonhos, e muita vontade de trabalhar em prol da comunidade. Desta reunião surgiu o maior desafio de todos: reconstruir uma antiga sociedade recreativa no Bairro do Girassol, deixada ao abandono, e criar ali um projeto social e comunitário. Não estando à espera de tão rápida resposta e grandiosa proposta, todos ficámos em choque. “Como iríamos conseguir arranjar dinheiro para fazer as obras? Quantas pessoas vamos precisar para trabalhar? E depois, o que vamos fazer concretamente para servir esta comunidade? Teremos os recursos necessários?”.
Num verdadeiro ato de fé, aceitámos o desafio. No dia 28 de junho de 2012 foi assinado o protocolo com a
Junta de Freguesia da Ramada, e rapidamente começámos a delinear um projeto para aquele local. Todos contribuíamos com ideias: “Vamos fazer um centro comunitário!”, “Vamos fazer uma igreja com várias atividades para crianças e jovens!”, “Podemos ter uma sala com computadores!”, “Podemos ter aulas de música!”.
Quando nos é dada a possibilidade de pintar numa tela em branco, cada risco que fazemos parece ser cortante, determinante para a peça final, mesmo que no fim seja apenas um traço junto de tantos outros. Era agora necessário juntar quem soubesse pintar, cada um com seu estilo e conhecimento, cada um com a sua cor.
Iniciaram-se as obras, primeiro retirando todo o lixo, entulho, seringas, garrafas, garrafões com fruta podre, e outros objetos que testemunharam o estado de degradação do lugar. Carrinhas, escavadoras, pás carregadoras e gruas da Junta de Freguesia, outra maquinaria de particulares, todos trabalhavam largas horas para desbravar terreno e permitir a passagem dos voluntários. O ambiente era de excitação, entusiasmo e muito suor.
“Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada”. Esta música infantil, que tanto gostava quando era criança, parecia enquadrar-se tão bem. Sem paredes e sem teto, era verdadeiramente uma casa engraçada que não tinha nada. Era tempo de tapar as portas e janelas, os buracos e crateras. Depois, colocar o teto, partir o chão, lixar a madeira. Todos vinham ajudar, homens, mulheres, jovens, até as crianças queriam brincar às obras. Mas era preciso deixar os adultos entendidos trabalhar. Eletricistas, pedreiros, carpinteiros, e também músicos, professores, assistentes sociais, engenheiros, estudantes, reformados, todos ajudavam. O mestre das obras era mesmo o pastor Luís Gonçalves que passava cerca de 10 horas por dia, 7 dias por semana, a trabalhar e a comandar os trabalhos. O Sr. José Maria, depois de um longo dia de trabalho, ia trabalhar para a Associação noite dentro. Uma empresa de construção civil alocou dois trabalhadores para trabalhar ali e outra empresa fez descontos nos materiais de construção. E, assim, a casa engraçada sem teto e sem nada ia lentamente desaparecendo. Em seu lugar, crescia um espaço -
o Espaço– que trazia uma Nova Vida.
As obras estavam avançadas, já existia uma casa de banho a funcionar e uma das salas estava em condições de ser usada. Não havia tempo a perder. A assistente social
Rita Adónis elaborava um projeto para as diferentes áreas de ação, a professora Carla Gonçalves planeava atividades para as crianças e jovens. Professores voluntários reuniam-se e discutiam a possibilidade de iniciarem o apoio ao estudo gratuito, e rapidamente fizeram um plano de atividades para um ano letivo. Acreditavam que seria possível de imediato, e assim foi. Professores no ativo, professores reformados e alunos universitários começaram a apoiar, voluntariamente, alunos do 1º, 2º e 3º ciclo nos trabalhos de casa e no estudo das disciplinas da sua especialidade. Começaram com 2 alunos e 2 meses mais tarde tinham 8, 6 meses mais tarde eram 14. A sala encheu-se e o Espaço pertencia agora às crianças.
As obras interiores continuavam, as paredes exteriores iam sendo pintadas, mas a herança deixada eram mesmo as manilhas de canalização da construção do bairro de há 20 anos atrás. O Bairro do Girassol é um bairro ilegal, um de entre muitos no concelho, em fase de urbanização camarária. Assim, dezenas de manilhas amontoadas à entrada do terreno eram tema de longas conversas e propostas criativas. A questão “o que fazer com as manilhas?” tirou várias vezes o sono ao pastor – que agora aprendia a arte da “engenharia civil”. Finalmente, na vertical, parecia obter unanimidade. Mais tarde seriam pintadas pelas crianças para dar mais cor e alegria a tais monumentos de cimento cinzento. De facto, aquele lugar já não era mais um barracão abandonado e sem qualquer utilidade digna. Ali nascia uma Nova Vida.